O FILÉ DE CYPHER E O CHAMADO DE NETUNO
Astrologia, ilusão e o despertar pela Casa 12
Por Sidnei Teixeira
“Sei que este bife não é real. Sei que, quando o coloco na boca, a Matrix está dizendo ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Depois de nove anos... sabe o que eu percebi? Ignorância é uma bênção.”
— Cypher, Matrix (1999)
No restaurante luxuoso da simulação, entre garfos de prata e vinho simulado, Cypher mastiga um pedaço de filé — suculento, sugestionado, inexistente. E diz, sem pestanejar:
“Ignorância é uma bênção.”
Com essa frase, o personagem de Matrix se rende à ilusão. Trocando a verdade árida pela doçura fabricada da percepção. O que ele não sabe é que, naquele momento, está entregando sua alma à frequência mais densa de Netuno — o planeta da dissolução, da ilusão e da transcendência.
Netuno: o véu azul do invisível
Descoberto em 1846, Netuno nunca foi "visto" em primeira mão. Foi calculado, deduzido, adivinhado. Isso já diz tudo sobre sua natureza simbólica: ele não se mostra, ele se sente. É sutil, enigmático e, como o próprio personagem de um sonho, paira entre o real e o imaginário.
Astronomicamente, Netuno é coberto por camadas espessas de gás e neblina, sua superfície é incerta, seus ventos são os mais velozes do sistema solar. Não possui chão sólido. Ele literalmente não oferece base concreta para quem deseja "pisar firme". E essa metáfora se estende à consciência: Netuno nos convida a caminhar no nevoeiro do incerto.
Além disso, possui uma cor azul intensa — não por oceano, mas por metano — um gás que também nos remete a mundos invisíveis, cheiros, atmosferas, impressões. Assim como as emoções, os sonhos, as visões.
1846: O nascimento da mente moderna invisível
O ano de sua descoberta não foi comum. Foi o mesmo período do nascimento de disciplinas que buscavam compreender o invisível da alma: psiquiatria, psicanálise, espiritismo.
Freud, Charcot, Kardec e Jung são frutos dessa mesma época. Todos eles, cada um a seu modo, buscavam interpretar o que não era dito, o que não era visto, o que estava além da razão cartesiana. Netuno nasceu no céu para espelhar essa busca nas profundezas humanas.
A Casa 12 e Peixes: o palco invisível
Na astrologia tropical moderna, Netuno rege o signo de Peixes e a Casa 12. Ambos compartilham do mesmo reino: o inconsciente, os mundos espirituais, as dimensões ocultas, os limites dissolvidos do eu.
A Casa 12 é a última do zodíaco. Ela representa tudo que não foi resolvido — carma, memórias ancestrais, sonhos, intuições e também as prisões autoimpostas da mente. Ela é a cela e o templo. O fim e o portal. Quem entra na Casa 12 sem consciência, afunda. Quem entra com preparo, desperta.
Peixes, o signo mutável da água, é fluido como a consciência sonhadora. Ele nos ensina que não há fronteiras reais entre as coisas. Tudo se mistura, tudo vibra, tudo é um. O "eu" é uma ilusão passageira.
A Matrix: metáfora netuniana por excelência
Em Matrix, toda a realidade é uma simulação. Os sentidos são alimentados por códigos. Os pensamentos são respostas a estímulos programados. O tempo é uma ilusão. Tudo isso é Netuno em estado puro: a ideia de que a realidade é uma projeção, não uma substância.
Mas Netuno não mente — ele testa. Ele pergunta:
"O que você vê é real ou é reflexo do que você acredita?"
"O que você sente é verdade ou é apenas ressonância do que foi ensinado?"
E aqui entra a filosofia budista, o taoísmo, e até mesmo a física quântica. Segundo estas correntes, a matéria não é absoluta. As partículas subatômicas respondem ao observador. O mundo se molda conforme a consciência que o percebe.
Cypher escolhe a ilusão. Escolhe voltar a dormir. Mas a astrologia moderna nos convida a olhar para o universo de netuno. A olhar Netuno não como véu que esconde, mas como véu que pode ser levantado.
O convite de Netuno: transcender a lógica
Nem mesmo a matemática é absoluta em Netuno. Os princípios absolutos tornam-se paradigmas em suspensão. Netuno é a dúvida sagrada. É o momento em que você percebe que "nada é real, tudo é permitido", como diriam os místicos sufis ou os criadores de realidades quânticas.
Esse planeta nos chama a viver em estado poético, simbólico, contemplativo. A ver o mundo como um espelho do invisível. Ele nos pede para meditar, para silenciar, para criar.
Mas também nos alerta: ilusões podem ser anestesias perigosas. O mesmo Netuno que desperta, também pode adormecer. Pode nos fazer viver como Cypher: comendo um filé que não existe, preferindo o conforto da mentira à dor da verdade.
Então: A bênção não está na ignorância, mas na visão expandida
A astrologia tropical moderna, ao integrar Netuno, Peixes e a Casa 12, nos dá uma ferramenta para desconstruir o irreal e intuir o essencial.
Ela nos diz: não confie apenas nos seus sentidos. Confie na sua alma.
O verdadeiro despertar é netuniano — não quando acordamos no corpo, mas quando acordamos na consciência.
Talvez Cypher tenha perdido a chance de mergulhar além da Matrix.
Mas você, leitor, ainda pode fazê-lo.
Feche os olhos. Respire fundo. Deixe Netuno dissolver o que é ilusão.
E descubra que, por trás de todo sonho... existe uma verdade maior.
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